2 - Hábitos e educação


Hábitos familiares

Como mencionado no último post/artigo, meus pais possuem culturas diferentes dentre si, e eu, como nasci em São Paulo - ao invés de nascer no Paraná ou na Bahia - também possuo uma cultura que é diferente das culturas de ambos, já que o ambiente e o contexto no qual cresci são diferentes daqueles nos quais eles cresceram.

Desnecessário dizer que, em meio a um caldeirão de culturas, alguns hábitos adotados nas famílias se assemelham, enquanto outros se repelem. Por exemplo: na família paterna, na época em que meus avós ainda eram vivos, a família tinha o hábito de se reunir todo final de semana para um almoço em família. A parte externa da casa possuia uma mesa enorme na qual sentavam 18 pessoas, e próximo ficava um fogão a lenha, para ajudar na preparação das comidas, tirando um pouco do esforço necessário na cozinha. Os pratos divergiam, mas geralmente consisitam de comidas brasileiras ou italianas. Minha avó fazia questão de todo fim de semana fazer pães artesanais para o dia em que os filhos fossem almoçar na casa dela. Entretanto, todos esses hábitos, essa união, morreu junto aos meus avós. Quando eles se foram, as intrigas escalaram rapidamente, resultando em uma fragmentação daquela família.

Por outro lado, minha família materna se reunia com muito menos frequência. A norma sendo o encontro em datas comemorativas como aniversários, Natal e ano novo (estes dois últimos sendo normalmente passados na casa de uma tia, em Caraguatatuba, litoral norte de SP), além da ocasional reunião em alguns fins de semana para almoços em família e churrascos. Os cardápios nas reuniões, entretanto, sendo mais diverso, e por vezes conflitando com a culinária da outra família. Abóbora, por exemplo, é um ingrediente bastante utilizado na minha família materna, mas que era considerada comida de porco pela paterna. Ao mesmo passo, Acarajé, tapioca, cuscuz e outras comidas que, para mim, são quase tão comuns quanto arroz, eram, para a família paterna, essencialmente comida estrangeira, que apenas por coincidência era advinda do mesmo país em que foram criados e a maioria nunca nem saiu.

Onde sou diferente

Mas não de muito adianta falar apenas sobre minhas famílias, uma vez que embora elas tenham sido parte de minha criação, foram apenas isso, *uma parte*. Divirjo de minha família (especificamente dos primos da minha geração) quanto à forma de criação. Por fatores que não divulgarei em detalhes, acabei por ter como elemento marcante em minha criação, nos momentos em que não ficava com minha família, o meu antigo computador. Um all-in-one, com meros 3.4GB de RAM e com um processador que já seria considerado fraco na época em que aprendi a falar. Mas ele acabou por ser parte integral do meu cotidiano e da minha formação como pessoa, uma vez que ele me levou à alfabetização tecnologica, à programação e ao conhecimento básico sobre uma gama aleatória de assuntos voltados à tecnologia. Ele me permitia a interagir com pessoas ao redor de diversos lugares do mundo, o que eventualmente me levou à fluência do inglês e compreensão básica do alemão e do espanhol quando tinha por volta de 12 anos.

Não me dava bem com outras crianças, isso desde cedo. Costumava ser “arteiro” como diziam na escola, ou como um bode, como diziam minhas tias. Consegui a proeza de ser expulso de duas creches (uma dessas vezes por ter subido no telhado da creche cujo prédio era um sobrado e só ser tirado de lá por bombeiros, daí o apelido de bode) e quase ser expulso do fundamental por conta de brigas e ateísmo (estudava em uma escola católica, mesmo sendo ateu, e isso já causou problemas com professores, mas provavelmente será assunto de algum outro artigo). No fim, as consequências foram apenas um isolamento perante às outras crianças daquela escola e também às de fora, o que fez com que eu apenas passasse mais tempo na tela do computador, interagindo com outras pessoas por meio dele, fosse em jogos - especialmente RPGs de diferentes estilos como Elsword e WoW - ou por meio de fóruns, normalmente sobre programação ou análises de obras (jogos, filmes, mangás, livros, etc.)

Educação

No fim, acabei diferente de minha família (relembrando, a que tenho contato quase exclusivo é a família materna) por conta do mencionado na última seção. Mas mesmo assim, faço parte da família, e eles me conhecem desde quando bebê, então quem liga se eu acabei diferente do normal? Além disso, essas diferenças eventualmente me levaram a passar em primeiro lugar em uma ETEC, no curso de Desenvolvimento de sistemas, e posteriormente em uma universidade pública.

Tenho o privilégio de poder ter estudado e poder estar estudando neste momento, cursando uma área que me interessa (ciência da computação, com uma ênfase na modelagem matemática da área). Esse privilégio veio como resultado de um esforço por parte da minha família durante minha criação, e agarrei a oportunidade com tudo que consigo. A partir desta oportunidade, não me importa se sou um pouco fora do padrão, eu preciso, no mínimo, dar o meu melhor para que o esforço deles tenha valido à pena - e também para que eu consiga viver de algo que eu goste, e não algo que apenas pague as contas, como é o caso de vários familiares.