6 - Aversão a água benta


Presente

Não sigo uma religião. Sou ateu, cético quanto a rituais no que tangem aspectos funcionais, embora viva em um país com a maioria da população “cristã”, num estado que se diz “laico” mas que contacom um câncer político que é a bancada evangélica.

Seria, evidentemente, errôneo dizer que a religião (alheia) não afeta minha vida. Isso se dá de múltiplas formas: - Nas leis que me governam, muitas vezes formuladas “pelo bem da família tradicional brasileira”, na qual a religião age como alicerce estrutural. - Na minha educação, pois fui aluno de uma escola católica durante vários anos da minha infância - as repercussões disso ainda fazem parte de mim até hoje, uma vez que originalmente era canhoto, mas fui forçado a parar de usar a mão esquerda, “mão do diabo”, diziam, e fui obrigado a aprender a usar a direita. - Na minha família, que é católica, ou, pelo menos, crêem em algo, caso daqueles que não são católicos.

Passado

Como já mencionado, estudei em escola católica. Os motivos eram simples: um bom ensino, especialmente considerando as outras opções de escolas na minha região. Teoricamente deveria ser associado ao lema da escola, mas isso ainda não me impedia de achar as coisas lá um tanto triviais/entediantes.

Recordo ainda diversos fragmentos do cotidiano naquele lugar (na folha, o texto original, está incluído o nome da escola. Aqui não constará).

Além da inibição do uso da mão esquerda, lembro de outras ocasiões. Inicialmente, nos dias onde ainda havia uma reza no primeiro momento antes da primeira aula de cada dia letivo, eu (que sentava na frente) ficava em silêncio e de olhos abertos, enquanto os outros rezavam. Isso, no entanto, mudou quando um dos professores reparou que eu nunca rezava junto deles, e me mandou por conta disso para a coordenação. Após algumas várias vezes disso ocorrendo, começaram a me colocar para fora da sala, todos os dias, nos primeiros momentos da primeira aula do dia, só podendo entrar novamente após terminarem de rezar um pai nosso e uma outra reza a qual o nome não me recordo; e nem me importo o bastante para tentar recordar.

Isso sem falar nos dias de aulas de religião (que lá era uma matéria obrigatória), na qual os alunos eram levados a uma capela que ficava dentro da escola. Não me lembro de um único professor desta matéria que não tentou me converter, mas me lembro da água benta, que em algum momento todos usaram (fosse para a aula, ou fosse para mim, individualmente). Alguns falavam apenas para eu molhar as mãos, a maioria na verdade, a simbologia que isso deveria ter continua sendo algo que desconheço. Outro, já me jogou água benta no rosto. Certa vez, outros alunos já jogaram em mim também, agindo como se eu fosse impuro ou alguma coisa que tivesse que ter aversão.